Como a Meta lucra bilhões com

golpes e exploração de

famílias carentes no Brasil

FRAUDE, IA E DINHEIRO FALSO:

O Brasil vive uma epidemia de golpes digitais que já superou os roubos de rua, tornando-se a principal ameaça patrimonial do país.

E a Meta, dona do Facebook, Instagram e WhatsApp, é a principal engrenagem dessa máquina.

No novo episódio de Quem Paga a Banda, o Projeto Brief analisou milhares de anúncios na Biblioteca da Meta e encontrou um padrão alarmante: empréstimos suspeitos, páginas que prometem benefícios do governo, publicidade falsa de bancos e golpes que permanecem ativos por semanas, sem qualquer moderação eficaz.

Todos esses anúncios estão disponíveis publicamente, acessíveis a qualquer pessoa disposta a olhar. E é justamente isso que torna o problema ainda mais grave: o crime opera às claras, sob a vista da própria empresa, que pouco faz para conter esse mercado ilegal afinal, ele rende bilhões: em 2024, 97,6% da receita da empresa veio de publicidade, segundo relatório oficial.

A seguir, o que encontramos.

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1. Golpes com “empréstimo”

Em setembro, identificamos 16 mil anúncios ativos na Biblioteca da Meta que mencionavam a palavra “empréstimo”. Desses anúncios:

52% apresentava indícios de fraude

9% eram golpes confirmados

Rapidamente encontramos diversas ofertas de crédito fácil, rápido e sem burocracia, com atendimento “sem consulta ao SPC”. A linguagem é precisa e revela conhecimento íntimo da realidade do tomador de crédito no Brasil, facilitada pela segmentação das plataformas para acessar o público ideal. O discurso combina agilidade e urgência, em contraste com a lentidão e burocracia associadas aos bancos tradicionais.

Em muitos casos, os anúncios apresentam uma estética profissional: imagens geradas por inteligência artificial simulando luxo e sucesso, e logos de bancos reais, como Nubank e C6 Bank, são usados livremente para reforçar a aparência de legitimidade.

Nos comentários, as vítimas interagem acreditando tratar-se de uma oportunidade real – um sinal do quanto esses anúncios se confundem com a publicidade oficial que circula na plataforma.

2. Golpes com

“Bolsa

Família”

Beneficiários do Bolsa Família, por viverem em uma situação de maior vulnerabilidade e alta dependência financeira, acabam sendo vítimas frequentes de golpes na internet. Anúncios ativos na Meta mostram a sagacidade dos golpistas, que conhecem o sufoco de quem recebe o benefício e usam uma linguagem que dialoga diretamente com a realidade dessas pessoas: 

Nos anúncios, há links que direcionam para o WhatsApp, páginas falsas e formulários que capturam dados pessoais, solicitando o pagamento de taxas inexistentes e lucrando com a promessa de alívio financeiro. 

3. Golpes

com “BPC”

Outro grupo de anúncios fraudulentos mira os beneficiários do BPC (Benefício de Prestação Continuada): um público historicamente vulnerável, composto em grande parte por pessoas idosas ou com deficiência.

Esses golpes se aproveitam de uma fragilidade recorrente: a dificuldade em conseguir o benefício e em acessar informações confiáveis sobre ele.

Os anúncios prometem “ajuda jurídica” ou a possibilidade de “reverter a decisão do INSS e recuperar valores atrasados, simulando escritórios de advocacia que não existem, com nomes genéricos, fotos falsas e nenhum registro na OAB.

A estética é sóbria e institucional, com cores neutras e linguagem jurídica simplificada, projetada para inspirar credibilidade.

O Beabá do Golpe

A Meta criou uma estrutura publicitária que supera em muito sua capacidade de fiscalização. Os anúncios fraudulentos não driblam o sistema – eles se aproveitam do modo como o sistema foi desenhado.

1. Aprovar primeiro, entender depois

A checagem automática de anúncios não é feita para identificar fraudes, mas para garantir que nada atrase a veiculação. Não há confirmação de identidade, nem exame de conteúdo manipulado – e o volume de anúncios é tão grande que o controle se tornou simbólico.

2. Regras que protegem quem lucra

As políticas da Meta foram escritas para proteger a empresa, não o público. Escondidas em links externos e redigidas em uma linguagem inacessível para a maioria das pessoas, elas funcionam como um escudo jurídico: transferem a culpa para o anunciante e a responsabilidade para o usuário. Na prática, a empresa impõe regras que quase ninguém lê – e muita gente não segue.

3. Moderação tardia e reincidência constante

Mesmo quando um golpe é denunciado, muitas vezes o anúncio pode continuar ativo por dias. Nesse intervalo, ele já cumpriu o papel de enganar, capturar dados e causar prejuízo às vítimas. Quando finalmente é removido, o processo não termina ali: sem rastreamento do anunciante e sem investigação sobre a rede que o mantém, pouco depois o mesmo operador retorna com outro perfil, outro CNPJ e o mesmo conteúdo, renovando o ciclo de golpes.

As plataformas tornaram o crime mais sofisticado — mas também mais visível.
Grande parte das fraudes repete os mesmos padrões: promessas de facilidade, linguagem emocional e pressa.
Reconhecer esses sinais é o primeiro passo para se proteger.

Como se prevenir de

golpes online


1. Desconfie da urgência

Anúncios que oferecem “liberação imediata”, “última chance” ou “PIX na hora” exploram o senso de urgência para reduzir o tempo de desconfiança. Golpes dependem da reação impulsiva: quanto mais urgente a promessa, maior a chance de ser fraude.

2. Observe o remetente, não a mensagem

Verifique quem está por trás do anúncio: perfis novos e com poucos seguidores são sinais de alerta. Golpistas imitam logotipos, mas não conseguem reproduzir histórico. Desconfie também de links que levam para fora das plataformas – especialmente para conversas no WhatsApp. Empresas legítimas usam contas comerciais verificadas, com um selo azul ao lado do nome. Se o perfil não tem o selo, ou o número não aparece como conta empresarial, desconfie.

3. Nunca compartilhe dados sensíveis

Verifique quem está por trás do anúncio: perfis novos e com poucos seguidores são sinais de alerta. Golpistas imitam logotipos, mas não conseguem reproduzir histórico. Desconfie também de links que levam para fora das plataformas – especialmente para conversas no WhatsApp. Empresas legítimas usam contas comerciais verificadas, com um selo azul ao lado do nome. Se o perfil não tem o selo, ou o número não aparece como conta empresarial, desconfie.

4. Promessas de benefício? Busque o canal oficial

Nenhum programa social ou órgão público oferece benefícios por anúncios em redes sociais. Qualquer promessa de “revisão”, “resgate” ou “complemento” deve ser confirmada diretamente nos sites oficiais, como o gov.br. A IA Ju do Bolsa também é um canal confiável para tirar dúvidas sobre benefícios do governo. Se a oferta exige pagamento antecipado, fuja que é golpe.

5. Pesquise antes de confiar

Procure pelo nome da empresa ou advogado no Google e veja se há registro em órgãos oficiais (OAB, Receita Federal, Banco Central). Desconfie de qualquer serviço financeiro que não apresente CNPJ válido e endereço comercial verificável. Verifique se as informações batem e entre em contato pelo canal oficial para confirmar.

6. Denuncie e avise outras pessoas

Ao identificar um golpe, use as ferramentas de denúncia das plataformas – mesmo que a resposta seja lenta. Compartilhar o alerta em grupos e redes ajuda a interromper a cadeia de desinformação e a proteger quem ainda não foi atingido.

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Confira outros relatórios

Por dentro da máquina de anúncios políticos em 2025

AGOSTO/25

Partimos de um volume bruto de ~16 mil anúncios reportados pela Biblioteca de Anúncios da Meta para setembro. Esse número inclui múltiplas versões do mesmo criativo (variações de segmentação, posicionamento e pequenos ajustes), o que superestima o total de peças únicas. Após limpeza e desduplicação, consolidamos o conjunto em 1.205 anúncios únicos (universo de análise).

Com base nesse universo (N=1.205), definimos uma amostra probabilística para categorização, visando 90% de confiança e 5% de margem de erro.

Parâmetros de coleta e busca

Período de coleta: 1 a 30 de setembro de 2025.
Palavras-chave por sessão:
Empréstimos:
"emprestimo" OR "emprestimos".
Bolsa Família: "Bolsa Família".
BPC: "BPC" OR “Benefício de Prestação Continuada”

Metodologia